“Chega meninos, estou farto! Se não vai a bem, vai a mal…”
Ando chateado com uma turma que estou a lecionar, não é a primeira vez que acontece nem será a última e apesar da tolerância/paciência que tive ao longo do 1º período, as atitudes e níveis de maturidade continuam aquém do exigível, pelo menos para os meus parâmetros.
Sintomas:
- baixos níveis de concentração
- atitudes infantis entre pares e para com o professor
- interrupções sistemáticas de quem está com a palavra, seja aluno ou professor
- afastam-se/levantam-se/viram-se de costas durante as explicações/orientações do professor
- conversas paralelas
- desinteresse pela disciplina
- ignoram as advertências do professor
- risinhos e comentários inapropriados
e, a mais grave de todas…
- total inconsciência da gravidade das suas atitudes
Ou seja, são alunos que não são maus miúdos, mas encaram a escola como algo que ela não é, um recreio. Este é um exemplo claro da pequena indisciplina, algo tão comum nas nossas escolas.
Mas apesar de não haver atitudes graves, como violência física ou psicológica, a pequena indisciplina é tão ou mais perturbadora para o processo de ensino-aprendizagem. As pausas constantes para chamar a atenção, para focar novamente os alunos, para melhorar o seu desempenho, fazem gaguejar o motor da aprendizagem e ficamos com a sensação que passámos metade da aula com coisas estúpidas, supérfluas, sem sentido, como o diz que disse e birrinhas de palmo e meio…
Não pensem que não tentei contornar a situação, já e por vários caminhos:
- diálogos individuais e coletivos sistemáticos (e quando digo sistemáticos é mesmo em todas as aulas)
- advertências/repreensões
- castigos de cariz pedagógico
- exercícios com forte componente lúdica e competitiva, de modo a incutir uma maior motivação pela disciplina
- ordem de saída da aula (por duas vezes)
- comunicações à diretora de turma
Ou seja, tentei a bem, principalmente a bem, e apesar da “tampa” que me saltou de vez em quando e de ter tido um efeito anestésico para algumas aulas, rapidamente os vícios antigos regressaram. Sei que os “cavalinhos selvagens” quando mudam de ciclo demoram algum tempo a serem “domados”, normalmente a coisa chega ao ponto que pretendo, mas desta vez a anormalidade teima em ser normal.
O que vou fazer? O que posso mais eu fazer? Essa é a questão… o que posso mais eu fazer??? Sei que me estou a expor publicamente e haverá certamente um de vós que vai achar que devia ter feito “assado” ou “cozido”, mas fiz aquilo que achava mais correto, não desisti ou ignorei, continuei a trabalhar apesar da frustração e irritação que esta situação me tem causado.
Vou fazer algo que não gosto de fazer, vou “quebrar” aquela turma e não vou dar-lhes tempo sequer para respirarem. Chega do professor compreensivo, comunicativo, bem disposto que gosta de ensinar a brincar. As aulas não devem ser uma “seca”, as aulas não devem ter um ambiente repressivo, intolerante, ditatorial, em que os alunos se sintam incomodados, afinal, estamos a falar de miúdos que ainda não possuem os “filtros” devidamente calibrados.
As primeiras aulas deste segundo período serão semelhantes a um “regime militar”, com o cumprimento das medidas disciplinares que constam no Estatuto do Aluno/Código de conduta. Estes miúdos precisam de entender que para atingir o sucesso é preciso estar focado, concentrado e levar as coisas a sério. Precisam de entender que também eles têm uma profissão, que devem ter brio e que só assim é possível aprender, mas aprender mesmo, sem utilizar a escola como um passatempo ou algo que se vai fazendo…
Os alunos precisam de assimilar um princípio básico da sociedade, que as suas atitudes têm consequências, sejam elas boas ou más…
Os pais, a sociedade em geral, gastam muito dinheiro e depositam muitas esperanças nestes jovens que são o futuro de amanhã. No entanto, parece que alguns destes “futuros” vivem numa bolha de irresponsabilidade, num ambiente demasiado confortável quando tanto está em jogo.
É preciso “abanar” certas cabeças, cabeças que pensam que o mundo se resume ao snapchat, facebook e mais alguns irmãos digitais…
Vai doer e não me vai trazer qualquer satisfação, mas é para seu bem, mesmo que só se apercebam disso daqui a umas semanas, quando voltar a afrouxar os níveis de intolerância e o sorriso surgir mais algumas vezes.
Escrito por: Alexandre Henriques