Um bom professor nunca erra, um excelente professor erra muitas vezes
Todos nós já saímos das aulas com sentimentos opostos. Se em algumas o mundo parece cor-de-rosa, em virtude da aprendizagem efetiva dos nossos alunos e correspondente sentimento de gratidão, outras há que ficamos a remoer o dia todo e as turmas seguintes ou parentes em casa é que costumam pagar a fatura da nossa frustração.
O sucesso de uma aula está diretamente ligado a fatores que dependem ou não do professor. Fatores como a preparação, o conhecimento dos conteúdos, a capacidade de diálogo, a liderança dos alunos, entre outros, entram na competência direta do professor, enquanto que as infraestruturas, a estrutura familiar dos alunos e seus amigos, não estão dependentes do desempenho do professor.
Tal como os alunos, os pais, os diretores, ou o Ministério de Educação, o professor também erra, não existe qualquer vacina que impeça o erro e que permita ao professor ser um exemplo perfeito. O erro, afinal, faz parte da natureza humana e não me canso de dizer que o professor é, em primeira instância, um ser humano.
Então, o que difere um bom de um excelente professor?
Passando à frente do nosso sistema de avaliação, que deveria fazer essa distinção e não ser um mero mecanismo de “castração” de carreiras, o bom professor é aquele que domina os conteúdos e os transmite cumprindo com todas as planificações. Tal como todos os professores, o erro também é um “convidado” das suas aulas, mas a sua postura perante o erro difere do professor excelente. Este não assume ou aprende com os seus erros. Aula após aula, ignora os sinais de que algo está mal: as muitas negativas, a indisciplina reinante, o desinteresse dos alunos, a dificuldade em gerar empatia com estes, etc. Apesar de todos os sinais, o professor persiste, segue em frente, apontando os outros como primeiros e únicos responsáveis pelo descalabro que vislumbra à sua frente.
Ano após ano nada muda, apesar de todas as mudanças…
O professor excelente, é obrigatoriamente um inconformado, procurando insistentemente o melhor caminho para a obtenção do sucesso dos seus alunos. O professor excelente, assume que não é perfeito, é humilde e pede desculpa quando erra, alterando procedimentos e formas de estar consoante os alunos que tem à sua frente. O professor excelente é reativo e pró-ativo, é um líder natural e não um líder imposto. O professor excelente, é reconhecido na sala de aula como alguém que está não só a fazer o seu trabalho, mas que de forma genuína preocupa-se com os seus alunos. O professor excelente não justifica os seus erros com os erros dos outros, o professor que é excelente não é o foco, sabe que o foco são os seus alunos.
Felizmente que tive e tenho o prazer de constatar a excelência de muitos dos meus colegas, porém, há efetivamente bons professores, professores que foram vergados por anos e anos de políticas educativas erráticas, desprezo social e financeiro. São professores que cumprem o seu trabalho sem a chama que já tiveram, se é que a tiveram.
Não é fácil ser-se um excelente professor, não basta querer, é preciso sentir-se professor e compreender o seu papel quer na escola, quer na sociedade. Ser-se professor não é apenas um emprego, é uma alavanca que pode mudar todo o tecido social, seja local, regional ou nacional. Ser-se professor implica ter a perfeita consciência que ele não sabe tudo, tem de se adaptar à realidade e perceber que o erro é apenas um passo para a aprendizagem, seja do aluno ou do próprio professor…
Fica o reconhecimento aos milhares de excelentes professores que existem em Portugal!
Alexandre Henriques
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