Telemóvel na sala de aula: Sim ou Não?
A Edulog, estrutura da Fundação Belmiro de Azevedo, organizou no dia 15 de novembro um debate integrado no ciclo de conferências EDUTALKS com o sugestivo título “TELEMÓVEL NA SALA DE AULA: SIM OU NÃO?”
O Público ouviu alguns dos especialistas que participam no debate e encontrou opiniões “a favor” e “contra”.
Confesso que é com alguma perplexidade que vejo matérias desta natureza serem apreciadas a preto e branco, a favor ou contra. Aliás, passou-se, passa-se o mesmo com a utilização computadores na sala de aula. Algumas notas.
Como já tenho afirmado, considerando o que se sabe em matéria de desenvolvimento das crianças e adolescentes, dos processos de ensino e aprendizagem e da sua complexa teia de variáveis, das experiências e dos estudos neste universo, mesmo quando parece contraditórios entendo que:
1 – O contacto precoce com as novas tecnologias é, por princípio, uma experiência positiva para os miúdos, para todos os miúdos, se considerarmos o mundo em que vivemos e no qual eles se estão a preparar para viver. Nós adultos estamos a pagar um preço elevado pela iliteracia, os nossos miúdos não devem correr o risco da iliteracia informática.
2 – As novas tecnologias, incluindo o telemóvel, na sala de aula são mais uma ferramenta, não são A ferramenta, não substituem a escrita manual, não substituem a leitura em papel, não substituem a aprendizagem do cálculo, … não substituem coisa nenhuma, são “apenas” mais um meio ao dispor de alunos e professores para ensinar e aprender e agilizar o acesso a informação.
3 – É preciso evitar o deslumbramento provinciano do novo-riquismo com as tecnologias, reafirmo, são apenas ferramentas que a evolução nos disponibiliza e não algo que nos domina e é visto como uma panaceia.
4 – O que dá qualidade e eficácia aos materiais e instrumentos que se utilizam na sala de aula não é a tanto a sua natureza mas, sobretudo, a sua utilização, ou seja, incontornavelmente, o TRABALHO DO PROFESSOR é uma variável determinante. Posso ter um computador ou um telemóvel para fazer todos os dias a mesma tarefa, da mesma maneira, sobre o mesmo tema, etc. Rapidamente se atinge a desmotivação e ineficácia, é a utilização adequada que potencia o efeito das capacidades dos materiais e dispositivos.
5 – A sua utilização em sala de aula é também uma forma de aumentar os níveis de auto-regulação no seu uso pois terão a supervisão dos professores e não o acesso muitas vezes sem controlo por parte dos pais.
6 – Para além de garantir o acesso dos miúdos aos materiais é fundamental disponibilizar a formação e apoio ajustados aos professores sem os quais se compromete a qualidade do trabalho a desenvolver bem como, evidentemente, assegurar as condições exigidas para que o material possa ser rentabilizado.
7 – Finalmente, como em todas as áreas, é imprescindível avaliar o trabalho realizado, única forma de garantir a sua qualidade.
8 – A utilização do telemóvel por parte dos alunos para comportamentos inadequados, não é um problema do telemóvel, é um problema de disciplina na sua utilização. A proibição não funciona ficazmente, muitos comportamentos proibidos são diariamente evidenciados, por miúdos e graúdos (alguns até bem “graúdos”).
9 – Para alumas crianças ou jovens com NEE as novas tecnologias, incluindo o telemóvel, constituem uma ferramenta imprescindível de inclusão, participação e aprendizagem.
Não conheço as conclusões do debate mas gostava que apesar de ter começado com “a favor” ou “contra” fosse um pouco mais heurístico.
Image by Freepik