Os professores e os kinder surpresa
As melhores turmas são para os professores da casa. Esta é a minha opinião baseada na constatação de 15 anos de docência, confirmada por inúmeras conversas com colegas de profissão e vários comentários que vou lendo pelo mundo digital. E quando digo melhores turmas, refiro-me naturalmente a alunos que estão mais focados/motivados para o ensino tradicional.
Ano após ano chegam novos professores às escolas, rodando entre si como se isto fosse benéfico para alguém… mas isso é outra conversa…
Nesta altura do “campeonato” já todos sabemos – e quando digo todos, incluo mesmo todos: professores, funcionários, alunos, diretores e pais – quais os professores que foram uma boa “aquisição” e quais aqueles que esperamos que se fiquem por outros lados num futuro próximo. Cada professor é um indivíduo que como qualquer cidadão, tem as suas qualidades e defeitos. Daí a minha associação ao efeito surpresa do tão conhecido ovo kinder.
Qualquer treinador que se preze sabe que um defesa joga na defesa e que um avançado joga no ataque, tal acontece pelas suas características específicas. Na escola, as características dos professores deveriam ser conhecidas previamente para que quem de direito (diretores) colocasse os seus “jogadores” nas devidas posições, otimizando recursos, potenciando resultados. Talvez assim fosse mais fácil julgar rankings e afins…
Mas infelizmente os relatos de professores que ficam com as piores turmas são comuns e provam que existe uma “panelinha” dissimulada em muitas escolas.
Surge assim uma clivagem interna que corrói a escola, bem visível nas ligações laborais e sociais dos seus profissionais. Além da diferença salarial (algo a abordar em futuro artigo), há aquele sentimento que alguns carregam a escola e outros permanecem sentados nas suas poltronas douradas, adquiridas pelo estatuto do tempo de serviço… Mas que estatuto?
Podemos colocar as coisas numa questão de competência, e sim, concordo que há uns que são melhores do que outros, é assim em todo o lado… mas gostaria de colocar a questão nas características de cada um. Existem professores com maior propensão para turmas de ensino secundário, outros para lidar com alunos mais novos, outros para lidar com turmas de ensino profissional, outros para lidarem com situações disciplinares e outros para coordenarem colegas de profissão.
O estabelecimento de hierarquias na sociedade existe pois esta funciona melhor assim. Na escola, tais hierarquias são meras fachadas e a imposição hierárquica assume-se não pelo cargo que se ocupa mas pelo estatuto adquirido. Novamente… mas que estatuto?
O equilíbrio de forças de um regime democrático deve persistir e ser fomentado, mas a disposição das peças cabe sempre a quem o gere. Se este não conseguir ir contra os “estatutos” instalados, então significa que não está à altura do cargo, salvaguardando o interesse de todos, salvaguardando o interesse da escola pública.
A escola deve ser um espaço onde o coletivo deve ser a sua principal força e se este funcionar, todas as suas estrelas brilharão, sejam eles alunos, professores ou funcionários. Num coletivo eficiente não precisamos de nos preocupar com quem fica com as melhores ou piores turmas, pois numa escola cooperativa, quem está à frente dos alunos não é o indivíduo, é a força do coletivo.
Isto é ser bom colega! Isto é pensar nos alunos! Isto é liderar uma escola! Isto é ser escola!
Escrito por: Alexandre Henriques