“Eu não gosto lá muito da escola”
“Eu não gosto lá muito da escola…” é uma frase que cada vez oiço mais nas consultas, vinda de adolescentes, mas também de crianças que iniciaram agora o seu percurso escolar.
Sempre que oiço esta frase questiono-me, “O que se passa para que uma criança não goste de um local onde passa a maior parte do seu dia e onde vai ter de estar pelo menos 12 anos da sua vida?”, e quando procuro explorar, as respostas não tardam:
- “não tenho tempo para brincar”
- “é muito difícil”
- “tenho muitos trabalhos para fazer em casa”
- “tenho de estar sempre quieto”
E por trás destas respostas estão sentimentos de ansiedade nos momentos de avaliação, receio de não corresponder às expectativas dos adultos, tristeza porque os resultados não são “assim tão bons”, desânimo porque os outros são melhores, desmotivação porque não entende a utilidade do que está a aprender…
Por outro lado, oiço muitos pais e professores dizerem que as crianças não se esforçam, que querem que se faça tudo por elas, que não são autónomas… Mais questões me surgem…
- Como é possível as crianças não se estarem a esforçar se passam tantas horas na escola a trabalhar, se têm tantas atividades a que se dedicam, se têm tantos apoios em que trabalham mais e se chegam a casa e ainda têm mais trabalho?
- Será que as expectativas são tão altas que, por mais que a criança se esforce, nunca as vais alcançar?
- E estas crianças que supostamente não se esforçam não têm qualidades e capacidades?
Não tenho uma resposta definitiva para estas questões, mas aquilo que tenho encontrado na minha prática clínica são adultos (pais e professores destas crianças) preocupados com a necessidade de que elas tenham óptimos resultados desde muito cedo para conseguirem “fazer frente aos desafios que vão encontrar na vida”.
Só que para alcançar este objetivo as crianças acabam por ter muito pouco tempo para brincar (tão importante para o desenvolvimento de competências também necessárias para o tal sucesso), com pouco tempo para estarem em família e desenvolverem competências emocionais e relacionais (também tão importantes para o tal sucesso), com pouco tempo para simplesmente serem crianças.
Sabe-se que uma exigência demasiado elevada pode conduzir a ansiedade, insegurança, problemas de comportamento, a fragilidades ao nível da autoestima (que dificultará alcançar o tal sucesso)…
É verdade que é difícil “lutar contra o sistema” e acredito que os pais e os professores que amam a sua profissão, querem o melhor para as crianças, mas é importante encontrar um equilíbrio, os extremos provocaram desarmonia (menos o afeto, esse pode surgir em “excesso”).
O foco deve estar em a criança ter vontade de aprender, ter gosto em ser desafiada e em explorar e isso não se consegue se não respeitarmos o desenvolvimento individual de cada criança e se não houver espaço para o afeto.
Por isso, esteja atento à criança, perceba o significa dos seus comportamentos, crie espaços para simplesmente estarem juntos, deixe-a brincar e coloque-lhe desafios adequados à idade.
Escrito por: Cátia Teixeira, Psicóloga Clínica @ Oficina de Psicologia