Professores vão ter de trabalhar em conjunto
O título é provocatório e baseia-se numa opinião pessoal que a articulação existente nas escolas é meramente retórica e que permanece num papel muito bonito criado em conselho de turma, muitas vezes em formato copy paste.
A verdade é que os professores estão formatados em disciplinas e conteúdos, numa postura muito umbiguista. É uma característica, não é um defeito, fomos ensinados assim e julgo que o maior desafio para o que aí vem, é a adaptação que os professores terão que fazer para trabalharem e avaliarem em conjunto. Se acredito que estamos à altura, sim acredito, mas se todos estiverem dispostos a alargar horizontes e não considerarem a sua opinião a única opinião…
Este é um ponto importante, a constante oposição a tudo o que chega – seja de um lado ou do outro – impede que muitos vistam a camisola e pouco ou nada se apliquem para implementar novos projetos. E se somarmos a isto as constantes alterações e cortes de carreira, o espírito cooperativo entra em modo hibernação…
Não pensem com isto que considero os professores parte do problema, os professores serão sempre parte da solução, mas precisam, também eles, de serem nutridos de quando em vez.
No dia 26 de Fevereiro, o Expresso online fez referência ao regresso da Educação para a Cidadania desde o pré-escolar, algo que já foi testado no passado e que também eu comprovo que não resultou, exatamente pela dificuldade em operacionalizar e por muitos não acreditarem na sua utilidade/eficácia.
Mas a verdade é que estas ideias, ainda que concretizadas de outras formas, já foram defendidas e tentadas antes, recorda Carlinda Leite, da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto. “Tem muito que ver com o projeto de gestão flexível dos currículos que foi iniciado no final dos anos 90 e se generalizou com a reorganização curricular de 2001. Naquela altura, as escolas também tinham de desenhar projetos curriculares de turma, adaptados à sua população escolar em concreto e ao contexto em que se inseriam e pôr em prática em tempos letivos específicos para o efeito.”
Só que da teoria à prática pode ir um passo de gigante. “Num país habituado a uma educação muito centralizada e um currículo muito prescritivo, este modelo é difícil de concretizar. Porque exige que os professores se tornem decisores curriculares, que trabalhem em conjunto quando estão sobrecarregados com as suas disciplinas e os programas extensos que têm de cumprir —, sobretudo no secundário, que conta ainda com a pressão acrescida dos exames —, porque requer materiais que não estão feitos”, enumera a investigadora. E quando, depois de anos a aprender e a testar esta nova cultura, os processos estavam mais oleados, o modelo começou a ser abandonado, aponta.
O negrito não é por acaso, e tem toda a razão, mas lembro que foi dito que a flexibilização dos currículos é apenas uma definição do que é essencial, dando assim mais tempo a professores e alunos.
No entanto, Paulo Guinote alerta para um caminho interessante e um dos perigos que se avizinha…
Paulo Guinote, professor de Português e História e autor do blogue o “Meu Quintal” recorda-se desses anos e antecipa as mesmas dificuldades. “Num currículo organizado por disciplinas, cada uma com um professor, e as horas repartidas, torna-se muito difícil.” A solução, propõe, passaria por uma alteração profunda da matriz curricular, com a organização por áreas, e não disciplinas, asseguradas por vários professores que trabalhariam em parceria. “Numa manhã os alunos dedicavam-se às ciências sociais e humanas, noutra à Matemática, às Ciências Naturais, Línguas, Expressões Artísticas.”
Mas há mais condições necessárias, diz. “Não vale a pena dizer às escolas para definirem projetos que façam sentindo naquela região, se depois lhes dizem que têm que se limitar aos professores que têm nos seus quadros. Nem mandar embora os docentes que tenham poucas horas atribuídas.” E acima de tudo, há que convencer que esta não é apenas mais uma mudança, num “ziguezague” que se tem repetido e a que a maioria dos professores, que está no sistema há mais de 20 anos, tem assistido. “É inevitável fazermos a pergunta: valerá a pena o esforço?”
A estabilização do corpo docente é seguramente uma mais valia, mas como tudo na educação tem sempre duas faces, lá iríamos assistir aos que defendem a mobilidade constante com concursos todos os anos… Aliás, o que seria a educação sem o “entretenimento” dos concursos…
Aguardemos por mais certezas e menos “ses”.
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