Carta de um pai para a filha
“Lembro-me de ti…
Lembro os nossos momentos em frente ao espelho quando te enrolava metodicamente o cabelo, o teu olhar vaidoso quando te dizia que nunca tinha visto ninguém tão bonito;
Lembro quanto te vesti o macacão colorido comprado na zara, pedi para rodares e tu rodopiaste;
Lembro as nossas boleias, surfadas atabalhoadamente nas ondas da Cabana do Pescador;
Lembro quando te aconchega à noite;
Lembro as horas infindáveis e os passeios no quarto quanto te socorria as cólicas nocturnas, deitava-te sobre o meu braço, tão pequena que eras;
Lembro-me do teu choro;
Lembro-me das tuas gargalhadas, do teu olhar feliz;
Lembro-me quando dançavas, trémula ao início, com aquele olhar do tipo… sou linda?;
Lembro-me quando cantavas, quando todos os meus sentidos se guardavam para ti;
Lembro-me de chorar e de rir com as tuas conquistas;
Lembro os teus beijos, os teus abraços e quando dizias gosto muito de ti;
Lembro quando deitavas a cabeça no meu colo, e o quanto isso me apaziguava;
Lembro-me de pensar que iria sempre lembrar todos os nossos momentos juntos;
Lembra-me para nunca esquecer o que é tão bom lembrar!”
Pai.
Obrigada, pai.
Lembrar-te-ei para nunca esqueceres o que é bom lembrar. Lembrar-te-ei para que me contes sempre todas as histórias e todas as emoções. E para que as vivamos sempre, mais uma vez.
Agora, já com filhas, sei – sei na pele, nos olhos, no corpo todo – do que te queres lembrar. Para sempre. E vejo-me nelas, há 30 anos, no teu colo. É como voltar a ele. Voltar a nós.
Joana Paixão Brás
(co autora do blog a Mãe é que sabe)
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