As principais dificuldades de estudar na idade adulta
Falta de vontade, de capacidade, de tempo ou de paciência para voltar aos livros. Serão estas as principais dificuldades de voltar a estudar na idade adulta?
A verdade é que quem regressa aos estudos nesta idade o faz com uma vontade redobrada, com clareza quanto à sua escolha, e acima de tudo com um fim em mente. Seja para consolidar conhecimentos e garantir uma promoção; seja para perseguir uma área de interesse há muito desejada, ou por pura satisfação pessoal. Por estes motivos a lista de dificuldades em estudar na idade adulta pode conter algumas surpresas.
As principais dificuldades de estudar na idade adulta
A lentidão da burocracia desnecessária
Uma universidade pública está cheia de carimbos, papéis, recibos, e detalhes que desconhecemos e nos fazem perder tempo. Pior, de letras pequeninas que é suposto lermos de fio a pavio para que não nos escapem pormenores que nem sabemos que precisamos saber. E atenção que isto é só sobre regulamentos e impressos e declarações. Não é o curso em si. Uma boa apresentação ou um vídeo explicativo, ou bolas, até um infograma resolviam metade das dificuldades.
A falta de condições físicas
Já aqui falei na questão dos wc’s, saídos de um qualquer liceu nos anos 80. Mas também o excesso de alunos por sala de aula dificultam as coisas. As variações da temperatura dentro e fora de salas são constantes. Há literalmente escombros por todo o lado: cadeiras sem costas, luzes intermitentes, e, believe it or not, salas onde existe corticite como isolamento. Para quem sai do ensino secundário isto não é uma dificuldade, e é em alguns casos um ligeiro upgrade. Para quem trabalha é o oposto.
O triângulo das bermudas
Casa / Carreira / Faculdade. É neste equilíbrio sensível que ou se dá o sucesso ou o fracasso. Todos reconhecemos que um bom sistema de apoio familiar é importante, e que quanto mais flexível for o nosso trabalho mais fácil será a divisão de tempo e dedicação a cada um deles. Contudo enfrentamos picos de trabalho ou as doenças normais dos miúdos e este equilíbrio delicado evapora-se.
O excesso do digital nas relações humanas
Eu sou orgulhosamente xennial. Nasci em 77 e pertenço a uma franja minúscula que sabe o que é o mundo analógico mas que evoluiu com o digital. Para mim e para os colegas da geração anterior o facto de comunicação entre seres humanos ser predominantemente via redes sociais é uma dificuldade. Nós não temos nem tempo nem paciência para teclar horas a fio. Gostamos de nos sentar a tomar café e trocar ideias olhos nos olhos, e não estar de 30 em 30 segundos a olhar para o telemóvel.
Tempo é dinheiro
Por isso outra das nossas grandes dificuldade, em estudar na idade adulta, são professores que não nos acrescentam valor. Que passam aulas a debitar slides palavra por palavra, ou que complicam mais do que explicam, ou que simplesmente nos adormecem. Claro que temos uma idade que nos permite lidar com isto, mas não quer dizer que não seja uma tortura a cada minuto.
Estudar em silêncio
Na minha visão romântica a minha filha, que entrou para a primeira classe no ano passado, e eu íamos estudar juntas. Na realidade eu não consigo estudar com ela porque estuda em voz alta, faz perguntas, interrompe e todas as outras coisas próprias da idade. Sem falar no pirralho que não sabe brincar sem onomatopeias, ou o marido que acha por bem dar-me música para me inspirar. Optei por estudar ou na biblioteca da faculdade ou no Caleidoscópio.
A pressão do final
A maioria de nós que estuda tem consciência que não vai fazer o curso no tempo previsto. Isto é pacífico e relaciona-se com as nossas opções. Sabemos que vamos lá chegar ao nosso ritmo. Contudo à nossa volta pressionam-nos constantemente para fazermos mais, mais rápido e com bons resultados. Take it easy on us people! Estudar na idade adulta não é tão fácil como pode aparentar!
A nossa própria pressão
Pode existir mas ainda não conheci nenhum estudante em idade adulta que não tenha a fasquia bem elevada em termos de resultados. Não estamos de volta ao estudo só porque sim. Queremos efectivamente resultados e aprendizagens. E quando falhamos aquilo a que nos propomos somos muito mais duros connosco do que a malta mais nova.
Já não dá para fazer noitadas
Bem, dar, dá, mas não a estudar, ou em qualquer actividade que envolva desempenho cognitivo. Esta é uma limitação que temos de aprender a viver com. Tentei uma vez e o resultado foi desastroso. Os meus colegas mais velhos já nem tentam e ainda me olharam com aquele sentimento “oh tão fofinha, a pensar que tem vinte aninhos”. Simplesmente não dá. Compromete todo o dia a seguir e os resultados não compensam minimamente o esforço.
Precisamos de ir às aulas
É outra constatação nos limita, principalmente agora que certos compromissos profissionais são inadiáveis. Ir às aulas dá-nos estrutura, que completamos com o nosso estudo. É uma espécie de caminho de migalhas que nos é fácil seguir, completar e fazer as nossas próprias escolhas ao longo do percurso. Perder aulas é perder migalhas e ter de fazer o caminho às escuras. Demora o triplo do tempo e com frequência os resultados são ao lado.
Estas são as principais dificuldades de estudar na idade adulta e estão muito ligadas à minha experiência pessoal e aos alunos de letras. Certamente que outros cursos terão dificuldades acrescidas e podem até nem sentir algumas destas. Quais são as vossas? Comentem neste post, adorava completá-lo.
Felizmente não é só dificuldades. A idade traz-nos inúmeras vantagens e será sobre elas o próximo post.
Sónia Trincheiras
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