Porque é que as dores da alma levam a fazer mal a si próprio? – Os adolescentes e a automutilação
“Por detrás deste comportamento está um enorme sofrimento psicológico.” – Entenda mais sobre este tópico!
A automutilação é um comportamento de autodano no qual o adolescente recorre lâminas de barbear, facas, x-atos, queimaduras, tesouras, etc., para fazer mal a si próprio. Um dos exemplos mais conhecido é fazer cortes no corpo ao ponto de ferir a pele e sangrar. O perigo deste comportamento é óbvio – o risco de perder demasiado sangue ou desenvolver uma infeção.
Então “Porque se cortam?”
É a pergunta que muitos procuram e cuja resposta poucos compreendem. Realmente pode ser difícil perceber porque é que alguém se corta propositadamente. Por detrás deste comportamento está um enorme sofrimento psicológico. Cortar-se é a forma que encontram para tentar lidar com as fortes emoções sentidas, pressão perturbadora ou relações problemáticas. Podem estar a vivenciar emoções que lhes parecem demasiado difíceis de suportar ou situações complicadas que pensam não conseguir alterar ou controlar.
Alguns adolescentes cortam-se porque se sentem desesperados por algum alívio de sofrimento psicológico e, na maioria dos casos, não conhecem outras formas de identificar e expressar de forma saudável emoções como a raiva, tristeza, frustração, rejeição, desespero, vazio… Muitos sentem que ninguém os compreende ou pode ajudar.
Estes comportamentos de autodano costumam começar e ser realizados por impulso, quando o adolescente se encontra dominado por fortes emoções com as quais não consegue lidar. Inicialmente podem trazer um ligeiro alívio momentâneo, que a longo prazo se vai desvanecendo. Segue-se o sentimento de culpa, vergonha e necessidade de esconder as cicatrizes.
Quando o jovem decide parar de fazer mal a si próprio encontra muitas dificuldades, pois este comportamento pode tornar-se repetitivo e até ter contornos compulsivos, ou seja, quando mais o faz, mais sente necessidade de voltar a fazê-lo.
Tudo isto é vivido em silêncio, pelo que muitas vezes os pais desconhecem o que se passa com os filhos e não se apercebem deste grito de socorro. Noutros casos, os pais interpretam erradamente que são comportamentos com intuito único de chamar a atenção.
As automutilações podem traduzir algo mais grave e estar associadas a problemas de saúde mental, tais como depressão, perturbação bipolar, perturbações alimentares.
É essencial que:
- O adulto esteja atento
- Tenha uma postura compreensiva
- Procure ajuda profissional
Um psicólogo ensinará o adolescente formas adaptativas de lidar com os pensamentos e emoções, que por sua vez, o ajudarão a controlar os impulsos e cessar as automutilações. Além disso, ajudará o jovem a encontrar ferramentas para lidar de modo saudável com eventos stressantes no futuro e a aumentar a sua autoestima.
Um ambiente estável e tranquilo no seio familiar, onde haja comunicação eficaz e momentos de partilha entre todos fará com que o jovem se sinta seguro, valorizado e mais à vontade para partilhar as suas angústias e partilhar emoções.
Escrito por: Raquel Carvalho, Psicóloga Clínica @ Equipa Mindkiddo – Oficina de Psicologia